domingo, 21 de setembro de 2014

Sobre sociabilidades praianas

A praia é dos ambientes mais democráticos que eu conheço, mesmo que chegar até ela não seja sempre tão democrático. Eu segui hoje com meu Guattari em mãos, uma garrafinha de água, uma canga e uma mexerica.
Como todo espaço social, também está exposta aos atravessamentos políticos, econômicos e culturais: os modos de produção materiais e subjetivos. Claro que há a barraca com mesas arrumadas onde se come um pescado a preços abusivos, mas logo em frente há alguém com seu anzol pescando. Há gente caminhando, deitada na canga, na cadeira alugada, na que trouxe de casa. Há a barraca falida ocupada pelo povo, que coloca música alta e divide as latinhas de cerveja da caixa de isopor. Na praia ninguém precisa ter cara de modelo, nem estar na medida de dez quilos abaixo da altura. Todo mundo faz o seu selfiezinho e tem direito à melhor luz do dia, é só estar ali. O que mais se joga na praia é o futebol, mas também tem vôlei, bandeirinha, frescobol ou mesmo alguém que esteja só jogando um charme. Tem casal de todo tipo: hetero, homo, às vezes até um triângulo amoroso. Há também a turma dos esportes radicais... surf, kite surf e o mais radical de todos: tentar fazer as crianças não passarem da altura do joelho. Verdadeiro ato de heroísmo este!
Parece que não há vegetarianos, mas sempre se pode comer um acarajé sem nada nada de camarão. Ricos e pobres estão expostos à chuva, ao vento, a uma bolada e a pisar no castelinho de areia de alguém. Mesmo sendo um romântico na presença do mar, acho mesmo a experiência praiana das mais libertadoras.