sexta-feira, 10 de janeiro de 2025

 uma política de arquivo


2024 foi um ano meio lento pra mim, mas também teve lá seus furacões e por isso foi também um ano pra fazer fervilhar algumas ideias que estavam meio latentes e todas elas tem a ver com arquivo. nesse ano eu pude, dentro desse guarda-chuva arquivo, lidar diretamente com um museu, o que nunca tinha feito antes.

essa história começou em 2023, quando conheci Ratinho e sua grande obra, um museu, lá em Prados, região das Vertentes de Minas Gerais. a Giovana falou com o Marcio que havia ouvido essa história pela Bela, e lá fomos nós. depois disso, a coisa foi se configurando, lentamente, como esse 2024 pedia. em novembro, finalmente, lançávamos um documentário com ele e não "sobre" ele. eu sempre gostei de museus de todo tipo, grandes, pequenos, museu gente, acho que é um jeito de salvaguardar memórias, tem sempre um viés. é claro que a "instituição museu" ligada a "instituição arte" tem um monte de questões, o movimento situacionista tensiona essa coisa toda, há tantos e tantos exemplos disso na "história da arte" que, ao invés de salvaguardar, provoca silenciamentos. 

o museu do Ratinho corre por fora, não tem nada a ver com uma instituição estabelecida e, por isso mesmo, é marginal. disse, logo de cara, que podia fazer parte de um processo de arquivo de reconhecimento para um trabalho tão potente. não acredito em empoderamento, dar voz ou algo assim. como também um artista subalterno, estou com a Spivak, colocando nossas vozes pra jogo. não estamos e não somos "parte" das redes de poder e de contatos nesse mundo institucional, talvez singularmente possamos colocar a vida em jogo.

do ponto de vista da lógica e não da temática, o museu do Ratinho, que é sobre a história de Prados e da região, tem muito a ver com um dos museus mais legais que já fui. lá em Zagreb, na Croácia, visitei o Museum of Broken Relationships, que, como Ratinho, recebe contribuições de gente e assim se constroi o acervo de memórias. logo o documentário estará livre e aberto na rede pra todo mundo ver e conhecer esse senhor das delicadezas da memória, vou avisando. 


foto da Natália Chagas, durante as gravações de Ratinho, documentário de 2024.

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